Novo modelo do ensino médio é visto com preocupação no Tocantins: "Reforma polêmica e perigosa”

27/09/2016 27/09/2016 10:14 2445 visualizações
Diretor regional do SINTET e professor da UFT dizem que retirada da obrigatoriedade de filosofia, sociologia, artes e educação física do currículo é retrocesso

Na semana passada, o governo federal encaminhou Medida Provisória (MP) ao Congresso Nacional para reestruturação do Ensino Médio. O novo modelo, que possibilitará que o aluno escolha diferentes trilhas de formação, foi recebido com preocupação pelo diretor regional de Palmas do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (SINTET), Joelson Pereira, e o professor da Universidade Federal do Tocantins (UFT), doutor em Educação, Damião Rocha; pois eles defendem que faltou a discussão ampla dessas mudanças.

“É muito preocupante para nós a forma que esse governo fez essa alteração. Sem fazer nenhum debate, porque isso aí para nós, no mínimo, levaria uns seis meses de discussão”, afirmou Pereira.

Foto: CT



Para Damião Rocha, reforma "não vai se efetivar dessa forma"


De acordo com o professor da UFT, é preciso levar em consideração que a educação passa por um período importante, que envolve a aprovação do Plano Nacional da Educação e a discussão da Base Curricular Comum Nacional, o que vai gerar, de acordo com ele, mudanças para toda educação básica, incluindo o Ensino Médio.

“No momento em que estamos com essa discussão e na pauta de congelamento de salários e congelamento de concursos, o governo lança uma Medida Provisória para fazer uma mudança que não diz como é que vai dar conta da ampliação da jornada, no mínimo, é algo temeroso e polêmico”, avalia Damião. “E por isso não vai se efetivar dessa forma”, acrescenta.

Obrigatoriedade de disciplinas
Joelson Pereira mencionou que ao analisar o teor da Medida Provisória pode confirmar a retirada da obrigatoriedade das disciplinas Filosofia, Sociologia, Artes e Educação Física, o que, para ele, é um retrocesso.

“Foi um avanço muito grande quando essas disciplinas foram inseridas no campo da obrigatoriedade. E até agora, todos os movimentos desse governo, que para nós é ilegítimo, foi no sentido de desmontar os avanços que aconteceram na educação, nos últimos anos. Para nós isso é muito preocupante”, enfatizou o diretor regional do Sintet.

Nessa mesma linha de pensamento, o professor da UFT pontua que o novo modelo proposto se assemelha ao atual modelo de Ensino Superior, que direciona a formação para uma profissão específica. “O Ensino Médio é educação básica, não tem que estar voltado ao mercado de trabalho”, critica Damião.

“Nós já tivemos isso na década de 60, na época da ditadura, que nós não tínhamos disciplinas de Filosofia, Sociologia, Artes: as [disciplinas] Humanas, que são importantes na formação cidadã. E quando o governo aponta para a retirada, a gente sabe que no fundo é um ataque para a área de Humanas. Para nós é um retrocesso”.

Conforme o pesquisador, não é possível implementar currículo e fazer reforma apenas incluindo e excluindo disciplinas. “É uma discussão muito mais ampla que exige formação e competência de professores”, alerta Damião, ao mencionar que já existe grande déficit de educadores na área de Física, Química e Biologia, mas ainda assim, terão aumento de carga horária.

Tempo Integral
Outro ponto de destaque da polêmica MP, que também foi questionado pelo diretor do Sintet, é o aumento na carga horária. A proposta prevê a implantação do ensino médio em tempo integral, com 7 horas diárias.

“A gente desconfia que vai haver uma parceria com as instituições privadas para fazer esse complemento de carga horária, ou seja, dinheiro público que vai para Educação privada”, supõe Pereira.

Para o líder sindical, a proposta é “perigosa”. “É uma Medida Provisória muito perigosa, porque elas deixam essas brechas para que a iniciativa privada se aproprie do ensino público”, avaliou.

Por outro lado, o representante do SINTET reconhece que há a necessidade de uma reforma no Ensino Médio. “A gente considera que é necessário fazer essa reformulação”, pondera Joelson Pereira. “Mas não da forma que esse governo fez”, conclui.


Foto: SINTET

Joelson Pereira, líder sindical, disse que a proposta é “muito perigosa”

Joelson Pereira, líder sindical, disse que a proposta é “muito perigosa”Principais mudanças
Uma das principais mudanças é a flexibilização do currículo. Atualmente, os alunos cursam 13 disciplinas durante os três anos do ensino médio. Na nova proposta, o 1º ano será dedicado a uma Base Nacional Comum com disciplinas obrigatórias. No 2º e 3º ano, o aluno escolherá as matérias que deseja cursar, conforme suas áreas de interesse.

As disciplinas flexíveis poderão ser escolhidas entre cinco opções: Linguagens, Ciências Humanas, Ciências da Natureza, Matemática e Ensino Técnico Profissional. Apenas, o ensino da língua portuguesa e de matemática será obrigatório em todos os anos, independente da área escolhida pelo aluno.

Outro ponto é o aumento na carga horária. A proposta prevê a implantação do ensino médio em tempo integral, com 7 horas diárias. O governo federal investirá R$ 1,5 bilhão, ao longo de dois anos, para implantar as escolas com esse formato nos estados e no Distrito Federal. A expectativa é matricular 500 mil jovens em tempo integral até 2018.

A Medida Provisória com a proposta do novo Ensino Médio brasileiro foi encaminhada para aprovação no Congresso Nacional. A previsão é que ele comece a ser implantado em todo o Brasil no primeiro semestre de 2017.

Do Portal CT

http://www.clebertoledo.com.br/estado/2016/09/26/82223-novo-modelo-e-visto-com-preocupacao-no-tocantins-quot-reforma-polemica-e-perigosa-quot